Para Conceição,
passado o tempo mais que demasiado, escrevo-te, em resposta ás cartas que já sem poderes escrever, floris-te e com uma linguagem bordada pelos que amam as ditas-te, para alguém as desenhar e em meus olhos se aninharem... sei que a palavra que esborrato neste manto branco não terminara no conforto do teu escutar através do eco de uma voz que te a lê enquanto lutas com o derradeiro fechar de olhos... esperei o tempo mais que demasiado...tu lutaste como uma valente...mas eu espero sempre o tempo mais que demasiado, desprezo a palavra que tenho para semear e em algumas pessoas plantar, arde em mim o medo do riacho da imperfeição.... Não houve dia que não acrescenta-se virgulas na carta que escrevi somente em meu pensamento, não houve dias que não imagina-se o teu sorriso depois de mais uma virgula.... não houve um dia que não imagina-se um ponto de exclamação desse olhar terno com que sempre me olhaste... mas esperei tempo demasiado.... a carta que hoje escrevo, grito-a a sangue e amordaço-a com pingos de sal. Hoje sou homem, um comunicador de palcos, falo para alguns para mais que alguns e para muitos mas acabo sempre sozinho a procurar-te na plateia.. é sempre a tua cara que espero ver por entre os focos que me cegam ou entre o escuridão da minha alma vazia, sem tí...para a carta te a escrever em voz alta.. hoje sei-a de cor..mas tu não estás lá.. maldita carta que nunca terminou esperando por mais uma virgula em caminho à utópia da perfeição e à perfeição da utopia...
Perdoa-me o tempo que sem poderes sair daquele quarto branco, por esta carta esperaste, perdoa-me por ter guardado para mim a cicatriz da tua ausência...se alguma vez conseguires perdoar, faz me um sinal nas noites que no céu procuro o brilho do teu olhar e o reflexo do teu bem estar...
A minha mão treme, mas hoje escrevo-te a carta que nunca te enviei... em destinário já não está aquela cama do hospital de Coimbra, mas no remetente continua a estar o coração com que sempre te amarei...minha Mãe!!!