domingo, 21 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
De onde vens?
As paisagens lá fora atropelam-se a uma velocidade perturbante, é impossível distinguir o fim da imensidão dos campos esverdeados, com o principio do céu acizentado. As janelas gastas do Sol, mal deixam perceber os contornos das casas plantadas nessa imensidão, orfãs de caminhos e de vida. O comboio continua e o seu som compassado entoa uma orquestra tão aglutinante como perfeita para o viajante.
(...) a Mulher debruçada sobre a janela com um olhar vazio sobre o infinito...vê o seu pensamento interrompido.
Passarinho- Estás distante...
Mulher- Eu estou aqui, precisamente aqui, mas eu não sei por onde estiveste tú?
(a voz autoritária que M. deixa escapar enquanto fita a paisagem deixa Z.P. apreensivo.)
Passarinho- Nem eu sei e mesmo que soubesse não to diria...
Mulher- Não confias em mim? De que tens medo?
Passarinho- De nada e ao mesmo tempo de tudo..tenho medo da Condição Humana, do seu poder de transformar o Belo num horrendo nada, um grande nada de perversidades e futilidades.
Mulher- Assim nunca te irei perceber...tens medo que em vez de te compreender te julgue, é isso?
( As posições invertem-se e Z.P. esmorece ao olhar em direcção à janela)
Passarinho- Não é o que estás já a fazer? È mais forte do que nós o acto de julgar...e de olhar à procura do que se pensa vir a encontrar..em vez de olhar para reparar e ter mais uma verdade para partilhar...
Mulher- Eu se pudesse partilhava até o respirar contigo..
(O barulho das carruagens é unico som presente...)
Mulher- E agora partilho o meu silêncio, não para te magoar, mas para ouvir a tua voz...
Mulher- Eu não tenho pressa, mas olha-me nos olhos para pelo menos eles me fazerem acreditar na palavra “nós”....
(Z.P. envergonhadamente, inspira pausadamente duas vezes e quando se preparava para respirar uma terceira, olha M. debaixo...)
Passarinho- Por onde andei eu a viajar este tempo todo? Pelos sítios incertos de tão certos que me fizeram regressar até tí. Se eu hoje sei aonde vai terminar a minha viagem? Não! Mas hoje posso te prometer o que nunca pude; aonde é que ela não vai terminar...
(...)